sexta-feira, 21 de junho de 2013

Saudades !

Sinto sua falta.

A saudade me assalta repentinamente. Não sei dizer porque justamente agora, nesse instante.
As vezes ao dirigir o carro ou naquele momento em qual tranco a porta da casa ou enquanto lavo a louça.
Não posso dizer que vivo num permanente estado de tristeza, mas nesses momentos especiais, fico  com meu coração apertando, sentindo a distância, a saudade,  a finitude e a impermanência de tudo que há na vida.


Estavamos vivendo muito longe uma da outra durante seus últimos anos e ainda assim estavamos próximas, pois eu ligava todos os dias, isso era nossa rotina e nossa tradição. 
Com você eu podia falar horas no telefone, as conversas eram variadas....artistas, família, os livros mais novos que você leu, um pouco de política, suas aventuras e lembranças do papai, um pouco de fofoca ....eu sinto tanta falta disso que me pego indo em direção ao telefone pra ligar, embora sei que no lugar em qual você está, não há qualquer meio de comunicação ... mesmo com toda nossa tecnologia moderna !



Você me fazia sentir criança ainda, embora já fazia muitos anos que eu não podia mais me considerar uma, mas na sua casa, eu voltava a ser.
Você corria para me mimar um pouco e eu podia fazer o que queria, assistir TV, conversar, dormir na rede e comer meu lanche preferido que só você sabia fazer daquele jeito e com aquele sabor.
Ate brigar um pouco, a gente brigava....
Mas o que deve ficar bem claro : Nossas brigas eram por bobagens e a gente ria um bocado ainda na mesma hora....você fazia um beicinho e eu não aguentava ficar braba....as vezes era vice-versa e quem fazia o beicinho, era eu ! Tudo terminava num abraço, como deve ser.




Nem tudo na nossa relação mãe e filha eram rosas e nem podia ser diferente, já que você travava uma batalha árdua durante anos da sua vida, contra um demônio que te atormentava constantemente...o alcool.
E apesar do fato, que essa batalha trouxe uma nuvem negra que assombrava nosso relacionamento, posso afirmar que não havia mais mágoas em relação a isso. O carinho e o grande amor que você emanava, compensava as faltas que você cometeu e mesmo com todo tipo de dificuldade, você me fez aprender muitas lições de vida.




Assim aprendi a ser realmente tolerante, porque você me mostrou o que isso significa na vida real e não apenas na teoria cinzenta de um livro de sociologia, nem você precisava de citar filósofos ou Freud....você simplesmente foi o exemplo vivo do significado da palavra!
Você me mostrou o que é fraqueza e também como é possível surgir força nos momentos mais inesperados.
Tentando proteger você de você mesma, eu aprendi a ser uma protetora e também a me preservar.
Aprendi a não me deixar abater muito fácil por nada que acontece mantendo meu bom humor, porque sei que o riso as vezes é aquele pedacinho que impede você a perder a sua sanidade...rir de todo coração, da circunstância, da adversidade e de você mesmo é um santo remédio!
Aprendi que respeito mútuo é uma questão de esforço. O respeito necessita de conquista, ele não aparece do nada ou por nada.
Aprendi que sempre há um futuro e que ninguem permanece o mesmo para sempre. Hoje eu sou uma, amanhã serei outra e a única coisa que podemos fazer é,  tentar melhorar.

Sempre nutri um certo orgulho de você , misturado com uma pontinha de tristeza por ver, que você não se realizou da maneira que podia ter sido. Sua carreira como artista que você largou, por exemplo.




Mas mesmo que você não realizou todas as suas metas na vida, muito permaneceu e passou para outra geração, seus talentos continuam presentes na nossa família e você certamente curtiria saber, que pelo menos uma das suas netas usa seus vestidos num palco e estuda os mesmos papeis das mesmas peças que você gostava e apresentava....
Você igualmente acharia graça em saber, que todos nós temos saudades da sua torta de maçã, dos seus pães com tomate e cebola, suas panquecas e saladas de batata e tomate, que só você temperava daquele jeito.





Sentimos todos a sua falta !
Falta das brincadeiras, das conversas, do seu amor, do cheiro do seu perfume, da sua comida deliciosa, da sua cabeça dura e as discussões que isso provocava, do seu grito de guerra: " a vida é bela!", das suas opiniões, da sua forma carinhosa de tratar a todos, dos pacotinhos que você dobrava das notas de 2 Reais para em seguida distribuir para os entregadores, do correio, do gás, das compras e de outros prestadores de serviços, mendigos e pedintes, da sua gentileza com quem quer que fosse....você era especial.

Não pude estar com você nas suas ultimas horas, nem eu e nem você sabia que o tempo estava se esgotando. Por mais que se sabe que o fim está sempre presente, a maioria de nós não vive nessa consciência permanente, ou pelo menos pensamos isso só em relação a nós mesmos....os nossos amados são imortais, ou pelo menos deveriam ser! O seu fim me pegou de surpresa e creio que ate você nem imaginava que isso estava acontecendo. Você assim teve o que você queria : nada de longos sofrimentos, algo rápido, a queda da cortina no meio da peça...
Sobraram as boas lembranças e sua presença passiva nas coisas que você deixou para trás.
A saudade está aqui e não vai embora, porque sua presença foi marcante e isso não é algo que todos conseguem .


7 comentários:

  1. Eu recebi muitos comentários na minha página do facebook para este artigo. Lá esses comentários vão se perder e eu gostaria de salvar. Por isso, vou passar os comentários q foram feitos lá, pra cá.

    ResponderExcluir
  2. Kathrin Pfeffer Camara Chorei! Saudades imensas


    Cravo Canela Pensei nela hoje, antes de ler teu texto. Estava fazendo um file de porco e tentando lembrar da receita da Egle...


    Cravo Canela Como disse kathrin, chorei. Pensei hoje nela quando fui procurar umas lembrancinhas... ate esqueci que ela nao estava mais la.



    Cravo Canela Bom, confesso que estou com raiva de você dona nina!


    Cravo Canela nao é nao, comecei, abri a torneira e agora é dificil


    Cravo Canela credo! "A vida é bela"! né nao Egle!


    Kathrin Pfeffer Camara Mainha é ruim ..


    Cravo Canela é, ela é tao boa, que é ruim!


    Cravo Canela pestinha!


    Kim Pfeffer Câmara Ela dizia "Vida Boa!"


    Cravo Canela cada um interpreta e é interprete daquilo que escutou dela, ne.


    Kim Pfeffer Câmara Eu tenho muitas saudades dela e de Opa. Tenho nostalgia crônica de tudo que lembre minha infância quando havia a presença deles. Opa se foi quando eu tinha 15 anos mas até hoje sinto saudade de pegar na mão dele enquanto a gente via tv, dele jogando bolinha de papel na gente, dele comendo torrada com geléia no café da manhã... de dizer "gute Nacht, schlaf gut!" à noite no quarto dele... até dos gritos que me faziam ter medo de fazer algo errado. Egle ficou mais tempo conosco, sempre nos mimando, sempre preocupada se a gente estava confortável... E era muito engraçada. Tudo o que ela falava era engraçado, aquele jeito dela... Sinto muita saudade de ver mainha e ela conversando no quarto, eu adorava ficar ouvindo... Eles fazem muita falta!!! =~~


    Kim Pfeffer Câmara Eu e Egle tínhamos uma brincadeira: quando eu dormia com ela a gente dava beijos uma na outra e cada uma tinha que acertar quantos beijos a outra deu. Não sei quem inventou, se eu ou se ela, mas posso resumir minha infância a isso!


    Cravo Canela olha, ha uns meses atras copmprei um livro pros meninos que se chama o schmat doudou, é um conto hebraico. A historia de um menino que quando nasceu seu avô que era alfaiate coseu pro neto uma manta, mas o menino foi crescendo e a manta ficou pequena, velhinha, suja. Entao a mae do menino disse que ia joga-la no lixo e jogou. O menino aproveitou da ausencia da mae, recuperou a manta e correu pra casa do avô implorando ele de fazer alguma coisa com essa manta que ele amava tanto. O avô como eximiu costureiro transformou a manta em casaco. O tempo foi passando e o menino cresceu, o casaco ficou muito pequeno pra ele, sujo, rasgado, e mais uma vez a mae decidiu de jogar no lixo aquele mulambo de roupa. O menino recuperou e correu para ver o avô pedindo mais uma vez para que o mesmo fizesse algo com aquela manta-casaco e o avô transformou-a em um lenço. E assim vai, ate que nao sobra mais nada da manta-casaco-lenço-botoes. O avô diz pra joseph que com nada ele nada pode fazer. Joseph volta pra casa e escreve essa historia que estou te contando

    ResponderExcluir
  3. Kim Pfeffer Câmara Nós, Carol Pfeffer Câmara, Kevin Camara, Kathrin Pfeffer Camara, Kerstin Pfeffer Camara e eu tivemos muita sorte: Avós que eram como pais. Por isso, podemos dizer que tivemos 3 mães e 2 pais. Infelizmente não pudemos conhecer nosso avô paterno, mas tenho certeza de teria sido como nosso terceiro pai.


    Cravo Canela A gente nao desaparece ou vai so pra longe, a gente vira com a saudade, historia, conto, recito....


    Cravo Canela Isso que vocês fazem e que sera feito sempre


    Nina Pfeffer Camara ai q lindo todos esses depoimentos de vcs....!!!


    Nina Pfeffer Camara Não fique com raiva de mim mayroca....rsrsrsrs....q tem hora q essa saudade bate e precisa ser revelada....


    Cravo Canela eu sei, é esse desvelamento é bom e ruim, alegra e machuca... penso nas cartas que escrevi e nao enviei, pra eles e ainda guardo como lembranças


    Kerstin Pfeffer Camara Um texto mais maravilhos que esse não podia ter...acho q nunca sentir tantas saudades enquanto lia algo tão lindo...A saudade está aqui e não vai embora, porque sua presença foi marcante e isso não é algo que todos conseguem...pse...vi egle a última ve...


    Carol Pfeffer Câmara tô sem palavras.. só consigo chorar!

    ResponderExcluir
  4. Sandra Fischetti Nina minha querida amiga, hoje pela manhã li sua bela homenagem, mas não consegui postar nada. Emocionei-me muito, deu um nó na garganta, um aperto no peito e, uma vontade louca de gritar...Não aceito, não me conformo, eu estava tão pertinho e mesmo assim não pude me despedir. Lamento todos os dias por isso. Ela quis me ver, me chamou e eu não ouvi, não senti...Ao visitá-la no hospital tenho certeza que ela percebeu a minha presença, pude me desculpar (ela talvez tenha me desculpado eu não) por não estar com ela antes, acariciei seu corpo frágil e lhe disse que agradeci por ela e em nome dela a equipe de médicos e enfermeiros exatamente como ela o faria se pudesse. Não gosto de reavivar essa lembrança.
    Guardo no coração nossos bons momentos, aguardávamos ansiosas as nossas reuniões aos domingos, eu preparava o pão de queijo que era a alegria do seu fiel companheiro (não sei escrever o nome dele rsrs), e ela deixava a mesa posta cuidadosamente ornamentada com velas, flores e com suas delícias culinárias, tudo preparado com muito carinho. Conversávamos sobre tudo, ela esforçava-se muito para que eu entendesse tudo que queria me dizer. Também havia momentos em que as palavras não eram necessárias, seu expressivo olhar dizia-me tudo. Costumávamos falar que éramos almas gêmeas, foi AMOR A PRIMEIRA VISTA.
    Ela tinha o dom de fazer com que eu me sentisse a pessoa mais importante do mundo, a mulher mais bela, a mais inteligente, a mais alegre, a mais espirituosa, a mais querida. Enfim, estar com ela era como que recarregar as baterias e saudar a vida “vida boa.”
    Falar em Egli é falar de alegria, de amor ao próximo, de gentileza, de delicadeza no trato com os seres vivos.
    Quando nos despedíamos ao telefone ela dizia “ich liebe dich” e eu respondia “Mi piace di più”. E foi assim, também, o nosso até breve.

    Inclusive meninas Kathrin e Carol, por favor, se for possível tragam um frasco pq o nosso esta no fim. Acerto com vcs aqui.

    Ich liebe dich!!!

    ResponderExcluir
  5. Gaby Medeiros: Me fez chorar muito... Aaah as tortas de maçã, os chocolates que ela insistia pra pegar não menos que 5... Aquela voz doce e aquela delicadeza que eu sempre achava q ela iria se quebra nos meus abraços, sempre linda, impecavelmente muito perfumada sempre!
    Sentimento tão triste...

    ResponderExcluir
  6. Kevin Câmara: Minha Vozona!! Muito bom mainha, realmente, fez com que saisse lagrimas de meus olhos.

    ResponderExcluir